Quais as chances reais da direita sem Bolsonaro?

Por Israel Leal*

Quem será o nome da direita para 2026? Será possível pensar em uma candidatura conservadora sem Jair Bolsonaro? Ou qualquer tentativa fora do círculo do ex-presidente está fadada ao fracasso?

Com a queda de popularidade de Lula e o desgaste precoce do seu terceiro mandato, a direita já se movimenta. Mas há divergências graves entre os que desejam unidade e os que defendem fidelidade incondicional ao líder que, mesmo inelegível, ainda reina nas pesquisas.

O debate já está posto na mesa: a direita brasileira precisa urgentemente de um nome viável para 2026. A inelegibilidade de Jair Bolsonaro acendeu um alerta vermelho. Não porque ele perdeu relevância — pelo contrário, segue numericamente como o maior líder político do país —, mas porque o vácuo institucional aberto por sua ausência na urna precisa ser preenchido com inteligência estratégica e foco em resultados.

Enquanto a esquerda patina na própria incompetência, com Lula colecionando recordes de rejeição e demonstrando um descompromisso gritante com o diálogo institucional, setores da direita se dividem entre manter o protagonismo bolsonarista ou construir uma alternativa que consiga aglutinar apoios mais amplos, inclusive no centro.

Michel Temer, sim, ele mesmo, o velho e sempre articulador político, voltou ao noticiário ao afirmar que Lula terá que “meditar duas, três ou dez vezes” antes de tentar a reeleição. E por quê? Porque sua popularidade despencou, o Congresso virou as costas para o Planalto e o país, mais uma vez, sente o gosto amargo da ineficiência petista. E nesse cenário, surge uma oportunidade de ouro para a direita — desde que saiba aproveitar.

Temer também defendeu uma candidatura única da oposição. E ele tem razão. Em política, divisão é sinônimo de derrota. Se a direita se fragmentar em três, quatro ou cinco nomes, enquanto a esquerda se fecha em torno de Lula ou de seu eventual sucessor ungido, teremos um replay de 2018 invertido — com a esquerda nadando de braçada e a direita em guerra civil.

Mas essa proposta de “união” tem gerado reações inflamadas. Fábio Wajngarten, advogado e fiel escudeiro de Jair Bolsonaro, não poupou palavras: chamou de “palhaçada” qualquer articulação que ignore ou contorne Bolsonaro. E mais: ameaçou trabalhar dia e noite por uma chapa 100% bolsonarista. Ou seja, se a direita tentar excluir Bolsonaro, ela racha — e racha feio.

E essa não é só uma disputa de nomes, mas de princípios. Há parlamentares e governadores que foram eleitos surfando na onda do bolsonarismo, mas agora fingem que não conhecem o mar. Querem se vender como “novas lideranças”, como se tivessem surgido do nada, esquecendo que sem Bolsonaro não teriam sequer um segundo de tempo na TV. É justo? Não. É estratégico? Também não.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, é um nome que há muito tempo não pode ser ignorado. Seu nome vem sendo testado com êxito, mas a euforia que vez ou outra surge ao seu favor enciúma a quem, no final, terá a missão de definir o candidato.

Romeu Zema, governador de Minas Gerais, é um outro nome que aparece com frequência nas análises e que ganhou força nos últimos dias. Ele defende uma candidatura construída em torno da boa gestão, da responsabilidade fiscal e do foco no futuro — e não em vaidades eleitorais. Se diz pronto para caminhar junto com o PL, mas ainda evita se colocar como herdeiro direto de Bolsonaro. Está no jogo, mas ainda na lateral do campo.

Zema tem atributos inegáveis. É discreto, eficiente e tem o segundo maior colégio eleitoral do país ao seu lado. Mas falta algo. Em um grau mais elevado do que no caso de Tarcísio, falta conexão emocional com as massas. Falta carisma. Falta aquela centelha de paixão que Bolsonaro, com todos os seus defeitos, consegue acender com facilidade. Uma eleição presidencial não se vence apenas com números e planilhas. É preciso narrativa. É preciso alma.

E nesse ponto, o bolsonarismo ainda é imbatível. Bolsonaro, mesmo inelegível, segue como a referência máxima para milhões de brasileiros que rejeitam o esquerdismo, o politicamente correto e a farra estatal. Ignorar isso é ignorar a base. E sem base, qualquer candidatura vira castelo de areia.

Isso significa que não há salvação fora de Bolsonaro? Não. Mas qualquer projeto que deseje vencer em 2026 precisa contar com o seu apoio explícito e com a adesão de seu eleitorado. Não dá para inventar um nome em laboratório e achar que o povo vai abraçar. A direita precisa pensar com o cérebro, mas não pode ignorar o coração da sua militância.

A chave para 2026 é clareza e coerência. O adversário é forte — não por suas qualidades, mas por sua máquina. Lula não joga limpo, nunca jogou. E o PT está disposto a tudo para se manter no poder. Se a direita quiser vencer, terá que escolher entre a unidade ou a vaidade. Entre o projeto de poder ou o projeto pessoal. E isso precisa ser decidido agora, não na véspera da eleição.

Já sem forças, o Brasil não aguenta mais quatro anos de retrocesso, aparelhamento ideológico e desprezo pelos valores que sustentam a verdadeira democracia. A direita tem nomes, tem votos e tem uma chance histórica. Mas precisa amadurecer.

Israel Leal é jornalista, escritor e consultor de marketing político.

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